quinta-feira, 11 de julho de 2013

Energia: País gastará menos R$ 2 bi com energia interligada

Por Nicola Pamplona
O sistema energético brasileiro funciona como uma grande rede, com linhas de transmissão ligando todas as regiões.
O início de operações da linha de transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus conecta a capital do Amazonas ao sistema interligado nacional.
Após quatro anos de obras, entrou em operação esta semana a linha de transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus, que encerra o isolamento energético das duas capitais e deve se traduzir em alívio para o bolso de todos os brasileiros. Com 1,8 mil quilômetros de extensão, o trecho da linha entre Tucuruí, no Pará, e Manaus, no Amazonas, foi energizada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) na madrugada de terça-feira. Já este ano, a economia com a redução do consumo de diesel por térmicas na região deverá ser de R$ 1,9 bilhão.
Conhecido no mercado como Linhão de Tucuruí, o sistema foi licitado em 2009 e as primeiras torres de transmissão instaladas em 2011. Seu início de operações, na última terça-feira, põe fim ao sistema isolado de Manaus, que era abastecido por usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis e com custo subsidiado por todos os consumidores de energia brasileiros. "O primeiro e mais importante impacto é uma diminuição considerável dos gastos com térmicas", comenta o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ (Gesel).
No ano passado, o país gastou R$ 4,7 bilhões com o subsídio à geração de energia em sistemas isolados. Para este ano, já considerando o início das operações do Linhão, a conta cai para R$ 2,84 bilhões. A tendência, segundo especialistas, é de queda nos próximos anos, uma vez que o cálculo de 2013 considera Manaus isolada por seis meses. Agora conectada, a região metropolitana da capital do Amazonas era responsável por 60% do consumo de energia por sistemas isolados no Brasil.
O custo da geração térmica nesses sistemas é pago por meio da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) que, no início do ano, foi absorvida pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), outro encargo cobrado nas contas de luz. Atualmente, o Tesouro tem antecipado parte dos recursos ao setor, como forma de compensação pela redução no preço da energia estabelecido por lei no início do ano.
Além da economia, diz Castro, há ganho do ponto de vista ambiental, com a substituição da geração a combustíveis fósseis por energia renovável, gerada por hidrelétricas em outras regiões do país. "A conclusão das obras representa um grande salto de qualidade no fornecimento de energia para a região", diz o professor. O sistema energético brasileiro funciona como uma grande rede, com linhas de transmissão ligando todas as regiões e permitindo a troca de energia de acordo com as condições de segurança dos reservatórios de hidrelétricas.
Com a conexão de Manaus ao Sistema Interligado Nacional (SIN), o Plano Anual de Operação dos Sistemas Isolados da Eletrobras prevê a desativação este ano de quatro térmicas movidas a óleo. A tendência é que novas usinas sejam desligadas nos próximos anos, de acordo com a evolução da capacidade do linhão de Tucuruí e do vencimento de contratos. Com abundância de gás natural, o estado manterá em operação usinas movidas por esse combustível.
Historicamente, havia dois grandes sistemas isolados: Acre/Rondônia, que foi interligado em 2009; e Manaus/Macapá, que começa a ser conectado agora. De acordo com o ONS, no primeiro dia de operação, a região metropolitana de Manaus teve um consumo médio de 897 MW, que passam a fazer parte das estatísticas do consumo de energia do SIN. Além disso, o sistema passa a contar também com a capacidade de geração da região, que conta com sete térmicas a gás natural e óleo, com 778 MW de capacidade, e com a usina hidrelétrica de Balbina, com 250 MW.
Além de Manaus, foram interligados ao sistema esta semana os municípios amazonenses de Presidente Figueiredo, Iranduba, Manacapuru e Rio Preto da Eva, segundo o boletim diário de operação do ONS. Com a travessia de centenas de quilômetros de mata fechada e de rios como o Amazonas, as obras do Linhão foram dificultadas por restrições de acesso - torres tiveram que ser levadas de helicóptero aos locais onde seriam instaladas - e de licenciamento ambiental. Para conseguir atravessar os 2,5 quilômetros de largura do Rio Amazonas, foram construídas duas torres com 280 metros de altura, quase do tamanho da Torre Eiffel, em Paris.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Moradores de Maringá mobilizam-se contra usina de incineração de lixo

Se usina sair do papel, população teme que cidade vire a 'Springfield' dos Simpsons

Bruna Carvalho e Nara Alves, iG São Paulo
11/04/2012

A queima de lixo doméstico para geração de energia ainda não tem regulamentação no Brasil, mas uma usina de incineração de resíduos sólidos pode sair do papel em Maringá, no interior do Paraná. O projeto, defendido pelo prefeito Silvio Barros (PP), no entanto, enfrenta resistência por parte de vereadores da oposição, moradores liderados pela Igreja Católica, ambientalistas e Ministério Público - que avalia haver omissão do poder público quanto aos danos ao meio ambiente e à saúde da população.

Meio Ambiente: Queimar lixo não é a melhor solução, afirmam especialistas

A polêmica foi comparada ao enredo de Os Simpsons, produzido pelo canal pago Fox. Na série, a usina nuclear comandada pelo ambicioso Sr. Burns causa transtornos em Springfield. A comparação foi feita pelo blogueiro Fabio Linjardi depois que uma Springfield real, de Missouri, enviou a Maringá uma comitiva que sugeriu coirmandade com a cidade paranaense. Além disso, a empresa que apresentou a polêmica proposta chama-se Foxx. A comitiva foi recebida, mas a coirmandade não foi levada adiante.



Foto: Gelinton Batista da Cruz

Moradores fazem manifestação contra a usina de incineração de lixo em Maringá, interior paranaense
Os Simpsons à parte, a possibilidade de instalação da usina de incineração de lixo em Maringá colocou em lados opostos o prefeito Silvio Barrros e o Ministério Público Estadual. Enquanto o prefeito defende que o município importe a tecnologia adotada em Paris e Tóquio e se transforme em referência regional no tratamento de lixo, promotores argumentam que a proposta viola a Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos, que defende como prioridade a redução da produção de lixo, a reciclagem e a reutilização.

Ao mesmo tempo, a Igreja Católica articula em suas paróquias a coleta de 12,5 mil assinaturas para o envio à Câmara Municipal de um projeto de iniciativa popular que proíba a instalação da usina na cidade. Em 16 de março, a Arquidiocese de Maringá publicou uma nota oficial contrária à instalação da usina e divulgou um abaixo-assinado nas 26 paróquias da cidade. Segundo o bispo Don Anuar, cerca de 9 mil assinaturas já foram coletadas.

Protesto nas ruas

Jovens fiéis se juntaram a outros manifestantes no dia 24 de março durante um ato público organizado pelo Fórum Intermunicipal Lixo e Cidadania contra a usina de lixo. “Somos contrários à implantação da usina de incineração em detrimento à diminuição da reciclagem, da reutilização e da compostagem”, afirma o bispo. Durante o protesto, manifestantes usaram máscaras cirúrgicas para protestar contra a eventual emissão de gases tóxicos da usina.

Em material divulgado no site da prefeitura, Silvio Barros insinua que a Igreja Católica tem manipulado fiéis para que assinem o projeto de lei popular contrário à usina. “Assinam para atender ao pedido de pessoas nas quais confiam, mas estão atendendo outros interesses”, disse o prefeito. O bispo Don Anuar nega manipulação. “Ele (prefeito) tem uma interpretação muito pessoal. Acha que estamos ludibriando nossos fiéis com falsas informações, o que não é verdade”, rebate.

Foto: Divulgação
Prefeito Silvio Barros (PP-PR) participa de debate “Como aferir o desenvolvimento sustentável”, em 28/03/2012

Organizadores do ato público alegam que o protesto foi apartidário, mas um grupo foi visto agitando bandeiras do PT, de oposição ao prefeito. A sigla negou participação no ato e afirmou ter feito um boletim de ocorrência acusando manifestantes de uso indevido da imagem da legenda. Para o líder do PT na Câmara, vereador Humberto Henrique, os “falsos militantes” quiseram desmerecer o debate, reduzindo a questão a uma briga entre partidos. “Eles queriam tumultuar, porque a administração diz que a causa é politiqueira”, diz.

O vereador petista acusa o prefeito de negligenciar a política de reciclagem de lixo nas cooperativas de catadores. Segundo ele, muitos catadores perderiam o emprego ou teriam sua renda mensal reduzida. “Eles (da usina) vão precisar dos catadores no começo, para separar uma coisa ou outra, mas é pouca gente. (A renda dos catadores) mão vai se comparar com os ganhos que eles têm hoje”, afirma.

Recomendação do MP

Dois dias antes do protesto, em 22 de março, o Ministério Público do Paraná recomendou que o Instituto Ambiental do Paraná não permita o licenciamento da usina em Maringá. No documento, os promotores avaliam que há omissão do poder público quanto aos danos ao meio ambiente e à saúde da população. Também segundo o MP, não há estudos sobre emissão de gases tóxicos decorrentes da queima do lixo ou uma previsão de monitoramento e controle dos efeitos da queima no solo, na água e nos alimentos no entorno da usina.

Para o procurador do Trabalho e coordenador do Fórum Intermunicipal Lixo e Cidadania, Fábio Alcure, os custos e a magnitude do projeto não são compatíveis com a realidade do município, apesar da promessa de geração de energia com a queima dos resíduos. A usina necessita de uma queima de 500 toneladas de lixo por dia contra as cerca de 300 toneladas produzidas diariamente em Maringá. “Com todos os riscos e prejuízos que (a usina) pode trazer para a população, a geração de energia soa eufemística. Não faz sentido. Não se deve levar nem em consideração diante dos revezes”, defende o promotor do MP.

Até 2004, todo resíduo de Maringá era destinado a um lixão. A partir de 2005, depois da remoção das pessoas que retiravam material do local, a área foi transformada em um aterro controlado, que foi interditado pela Justiça. Desde então, a prefeitura levou para a cidade, apenas para testes, uma tecnologia de compostagem para tratar o lixo que acabou não sendo implementada e a administração teve de buscar alternativas.

“Com todos os riscos e prejuízos que (a usina) pode trazer para a população, a geração de energia soa eufemística. Não faz sentido. Não se deve levar nem em consideração diante dos revezes”, diz o MP.
Em 2011, foram apresentados projetos de tratamento de lixo no Procedimento de Manifestação de Interesse da prefeitura, incluindo o da usina, protocolado pela Foxx. Em fevereiro deste ano, a Câmara de Maringá aprovou sob protestos o projeto de lei que permite à administração municipal firmar parceria público-privada (PPP) para a destinação dos resíduos sólidos.

A Foxx, registrada na Junta Comercial de São Paulo, representa a francesa Groupe Tiru e pertence aos empresários Milton Pilão Júnior e Ismar Machado Assaly, que chegou a ser indiciado pela Polícia Federal na Operação Anaconda, em 2003, quando era sócio da empresa Gomes da Costa, da indústria de sardinhas. Na época, Assaly negou as acusações da PF e o indiciamento foi cancelado.

Projeto da usina

O diretor técnico-comercial da Foxx Soluções Ambientais, o engenheiro Alexandre Dell'Aquila Citvaras, explica que apesar de a incineração de lixo para geração de energia não contar com uma regulamentação nacional, ela respeita a Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos. Isso porque, segundo o projeto, a redução, a reutilização e reciclagem seriam priorizadas. E, segundo Citvaras, o que seria incinerado na usina é apenas a parte do lixo que não pode ser reutilizada ou reciclada.

O engenheiro admite que é necessária a utilização de plástico e papel para que seja feita a incineração, mas argumenta que não são todos os materiais desse tipo que possuem potencial para a reciclagem. Como exemplo de material que não pode ser reciclado, ele cita as “caixas de pizza engorduradas”.

Quanto à viabilidade, Citvaras explica que a usina tem capacidade de incinerar 500 toneladas de lixo por dia. Como Maringá produz cerca de 300 toneladas por dia, a ideia é trazer o lixo de outras cidades da região – cerca de 1000 toneladas diárias. O custo da obra, segundo a Foxx, está avaliado entre R$ 180 milhões e R$ 200 milhões, a ser inteiramente arcado pela empresa, uma vez que se trata de uma Parceria Público-Privada.

Nesse caso, a prefeitura de Maringá entraria com o terreno, e a empresa com a instalação da usina, de acordo com o engenheiro. O lucro estaria no processamento do lixo – com o custo de R$ 80 por tonelada – e na venda de energia produzida para as distribuidoras. De acordo com as expectativas da empresa, a usina teria capacidade de produzir 12 megawatts por hora.

Procurada pela reportagem, a Prefeitura afirmou, por meio de sua assessoria, que a Secretaria de Meio Ambiente e o prefeito não se pronunciarão enquanto não houver uma definição sobre esse projeto. A definição, no entanto, ainda depende da liberação do Instituto Ambiental do Paraná para o licenciamento da usina. A partir da licitação, a usina levaria mais dois anos para ser implantada.

(Colaboraram Maria Fernanda Castro e Natasha Madov, iG São Paulo)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

SP vai licitar primeira termelétrica movida a lixo do Brasil

São Bernardo do Campo abre processo nesta segunda-feira (6).
Biodigestor vai eliminar resíduos e produzir energia para 200 mil habitantes.

Eduardo Carvalho
Do Globo Natureza, em São Paulo
 
O Brasil deve ganhar em breve sua primeira usina termelétrica movida a partir da queima de lixo. A tecnologia, empregada em 35 países, chega ao país atrasada na tentativa de resolver graves problemas relacionados à destinação dos resíduos sólidos.

A inédita unidade deve ser instalada em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. A prefeitura vai apresentar nesta segunda-feira (6) o edital de licitação do projeto, orçado em cerca R$ 600 milhões, e que terá capacidade de processar até mil toneladas de resíduos para gerar constantes 30 MW – suficientes para abastecer uma cidade com 200 mil habitantes.
Biodigestor (Foto: Editoria de Arte/G1)

A legislação sobre o tema, que vigora desde 2010, proíbe o funcionamento de lixões nas zonas urbanas a partir de 2014 e obriga as cidades a criarem aterros sanitários.

Dados da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) mostram que o Brasil gera mais de 195 mil toneladas de lixo por dia, sendo que 33 mil toneladas de resíduos vão para lixões.

Apesar da nova lei federal, as grandes regiões não têm espaço para aterrar de forma adequada as toneladas de lixo geradas diariamente.

Para solucionar a questão, o debate para a implantação de térmicas a lixo foi iniciado e começa a ter seus primeiros desdobramentos. A tecnologia, já empregada há décadas na Europa, tem o objetivo de tratar e recuperar energia do lixo orgânico, separar o que for reciclável e queimar o que não pode ser reaproveitado, transformando em luz elétrica.

“Isso resolve parte do problema do lixo e é possível afirmar com segurança de que não há danos à saúde ou ao meio ambiente”, afirmou Aruntho Savastano Neto, gerente da área de programas especiais da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental).

Potencial
A discussão sobre este tipo de empreendimento no país ocorre paralelamente em vários municípios do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, estado mais avançados no debate. “Cidades com população próxima ou acima de 1 milhão de habitantes têm potencial para receber uma usina térmica”, disse Sérgio Guerreiro, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista no assunto.

Segundo a Cetesb, São Bernardo do Campo e Barueri, na Grande São Paulo, receberam licenças provisórias. Santo André discute com a população a instalação de um complexo e São José dos Campos, no interior paulista, abriu para consulta pública o pré-edital do projeto. Existem ainda estudos avançados para a instalação de uma usina no litoral.

Os complexos brasileiros funcionariam com técnicas mistas, ou seja, haveria geração de energia pelo lixo orgânico e pela queima de resíduos contaminados. A implementação seria por meio de uma parceria público-privada.

O lixo orgânico, considerado úmido, passaria por um processo chamado ‘digestão anaeróbica’ (parecido com a compostagem), em que o gás metano liberado na decomposição seria transformado em energia. Para a outra parte, a incineração, seria o destino dos resíduos que não podem ser reciclados.

Polêmica
Entretanto, existe polêmica quanto à emissão de gases gerados a partir da queima dos resíduos. Nos complexos que poderão ser instalados no país haveria um grande aparato de filtros para impedir a liberação do metano (causador do efeito estufa), além de substâncias como as dioxinas, que podem ser cancerígenas.

“Parece uma solução atraente, mas acaba transferindo o problema. Existe uma preocupação com a acomodação e diminuição na reciclagem, já que tudo pode ser queimado. Além disso, há o problema com as emissões. Temos que tomar cuidado com isso”, afirmou Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energia do Greenpeace.

Para Sérgio Guerreiro, as cidades têm buscado adquirir este tipo de tecnologia, entretanto estão focando em investimentos errados. “Eles querem colocar usinas que tratam o lixo orgânico para gerar energia. Isso não é viável, é um preço absurdo e nenhuma cidade tem dinheiro para pagar por isso”, disse.

Enquanto uma prefeitura, com a de São Bernardo do Campo, paga atualmente R$ 60 para tratar a tonelada de lixo em aterros, na Holanda, por exemplo, o processamento em uma usina térmica chega a custar 90 euros (R$ 207). “No edital vamos escolher a empresa que nos oferece o menor preço para processar o lixo.

A nossa previsão é que a partir de janeiro de 2012 as obras sejam iniciadas”, afirmou Alfredo Buso, secretário de Planejamento Urbano de São Bernardo.

Mas para o especialista em térmicas a lixo, há chances de estes projetos não vingarem por aqui. “Existem vários trabalhos sobre o tema no Brasil, mas acredito que esta tecnologia não será adotada. As prefeituras não estão dispostas a pagar mais caro. Elas querem continuar com os processos baratos de hoje. Enquanto o país pensar desta forma, ninguém vai fazer nada”, disse Guerreiro.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Japão queimará escombros deixados pelo desastre para produzir energia

Objetivo é compensar déficit energético esperado para os quentes e úmidos meses de julho, agosto e setembro, quando o consumo de ar-condicionado aumenta

19 de abril de 2011
    Efe

    TÓQUIO - O Ministério da Agricultura do Japão planeja utilizar a madeira dos escombros deixados pelo terremoto e o posterior tsunami de 11 de março para gerar eletricidade, informou nesta terça-feira, 19, a emissora de televisão japonesa NHK.

    O objetivo é compensar o déficit energético esperado para os quentes e úmidos meses de julho, agosto e setembro, quando o consumo de ar-condicionado dispara.

    Pelos cálculos do ministério, o desastre deixou quase dois milhões de toneladas de escombros de madeira capazes de produzir cerca de 200 mil quilowatts de energia.

    Seis usinas de geração elétrica da região de Tóquio e do norte do país demonstraram interesse em transformar os escombros em material próprio para queimar.

    O orçamento para a reconstrução que o governo apresentará no fim deste mês no Parlamento (Dieta) inclui 2,5 milhões de euros para a compra de máquinas capazes de retirar os escombros.

    Tóquio e seus arredores já sofreram cortes de eletricidade nos dias posteriores ao desastre que afetou a central de Fukushima Daiichi, operada pela Tokyo Electric Power Company (Tepco), e que também interrompeu as atividades em outras três usinas nucleares.

    O governo estimou um déficit máximo de 15 milhões de quilowatts em regiões abastecidas pela Tepco se o verão deste ano for tão quente quanto o do ano passado.

    Para atenuar o déficit, o governo japonês lançou no início deste mês um plano para limitar, no horário de pico durante o verão, o consumo de grandes e pequenos usuários em 25% e entre 15% e 20%, respectivamente.

    Agora, a Administração estuda a revisão do planejamento, já que na última sexta-feira a Tepco melhorou suas previsões de produção.

    Além disso, a agência Kyodo informou que o governo do Kuwait decidiu doar ao Japão cinco milhões de barris de petróleo, avaliados em 45 bilhões de ienes (383 milhões de euros).
    O Japão, energeticamente muito dependente do exterior, importa quatro milhões de barris de petróleo por dia.

    sexta-feira, 4 de março de 2011

    Os impactos das compras nacionais da Petrobras

    Recebi o artigo do BLOG do Nassif
    Enviado por luisnassif, sex, 04/03/2011 - 10:59

    O assunto é relevante. Mostra que as atividades do setor de energia tem grande interface com o conjunto das atividades econômicas. Podia-se, muito bem, como na era FHC fazer encomendas de navios dos estaleiros asiáticos, mas a repercussão para o conjunto da economia brasileira seria a mesma?


    Quem desejar ter acesso ao conjunto do estudo, clique aqui:

    http://www.ipea.gov.br/082/08201004.jsp?ttCD_CHAVE=3274


    Do Valor
    As compras da Petrobras: controle seu entusiasmo
    Mansueto Almeida
    04/03/2011


    Entre 2009 e 2010, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fez um amplo estudo para estimar o impacto das atividades da Petrobras sobre o desenvolvimento produtivo e tecnológico dos seus fornecedores no Brasil. O estudo foi publicado em novembro de 2010 e está disponível em um livro no site do Ipea. Não participei do estudo, mas li com cuidado o resultado da pesquisa e comento abaixo algumas dessas conclusões.

    Quando se compara os fornecedores da Petrobras com os não fornecedores, nota-se que as primeiras: a) pagam um salário médio 80% maior; b) têm um porte médio maior (ganhos de escala); c) rotatividade da mão de obra menor; d) empregam 42,1% de todos os engenheiros que têm carteira assinada na indústria e serviços selecionados pelo estudo; e e) empregam também 43,3% dos profissionais científicos e 45,9% dos pesquisadores dos setores analisados. No entanto, os resultados não são tão espetaculares quando se investigam os efeitos dinâmicos do relacionamento com a Petrobras.


    No caso do engajamento em atividades de inovação, o resultado da pesquisa mostra que, de fato, o crescimento no número de pesquisadores, engenheiros e profissionais científicos é maior para empresas que passam a fornecer para a Petrobras do que para os não fornecedores (seção 3.1). No entanto, na pesquisa qualitativa com cerca de 100 fornecedores, 75% deles afirmam que o desenvolvimento de novos produtos decorreu de esforços próprios de inovação e apenas 8,3% destacam a parceria com a Petrobras como principal fonte (página 55). Ou seja, as empresas inovam por esforço próprio e não porque contam com uma ajuda tutorial da Petrobras.

    No quesito crescimento (mensurado pela taxa de crescimento do emprego relativo das firmas em relação ao setor), o uso de técnicas estatísticas mostram que os fornecedores da petroleira apresentam taxas de crescimento (do emprego relativo) superiores aos não fornecedores, mas a diferença entre os dois grupo é pequena (1,15% para os fornecedores e 1,10% para os não fornecedores em 2000 e 2001) ou não é significativa para alguns anos (quando a comparação tem início em 2001). Na mesma seção do trabalho, os pesquisadores investigam se o fato de se tornar um fornecedor da Petrobras aumentaria o acesso ao crédito do BNDES e se aumentaria o investimento. Essa hipótese, no entanto, não foi comprovada (páginas 30-32).


    Em relação ao crescimento da produtividade (mensurado no trabalho por meio do crescimento do salário médio real), o livro destaca que: "Os resultados ambíguos obtidos deixam claro que não é possível afirmar que a relação com a estatal teria um efeito sobre a produtividade de seus fornecedores no período posterior ao início dessa relação (pp. 35)". No caso do crescimento do nível do emprego, o estudo mostra ainda que parte do emprego criado é destruído quando as empresas passam a fornecer para a Petrobras e, mesmo quando se controla pelo número de anos de relacionamento com a petroleira, o efeito sobre o emprego, embora positivo, não chega a ser estatisticamente significante.


    No caso das exportações (páginas 38-41), mais uma vez, as complexas e rigorosas técnicas estatísticas mostram que, para os períodos de 2000/2001 e 2004/2005, os efeitos embora positivos, não são estatisticamente significantes, ou seja, não foram comprovados. E na pesquisa qualitativa, nenhuma empresa entrevistada declarou ter aumentado suas exportações como resultado das relações com a Petrobras (página 57).


    Um dos capítulos do livro (capítulo 5) analisa o efeito da Petrobras nos fornecedores de máquinas e equipamentos. As empresas que fornecem para a estatal são grandes exportadoras (exportaram US$ 2,3 bilhões em 2006), mas são também grandes importadores (importaram US$ 2 bilhões no mesmo período). Adicionalmente, a tabela 1 da página 63 mostra que, com exceção de três produtos, a demanda da petroleira não chega a 10% do total de compras do setor, o que mostra ser a demanda da Petrobras insuficiente para modificar o padrão de especialização da indústria de máquinas e equipamentos no Brasil. No caso da inovação neste setor, apesar de os fornecedores da Petrobras empregarem um maior número de trabalhadores em carreiras técnico-cientificas, "esses profissionais estariam sendo empregados mais para a adaptação tecnológica do que para a geração de tecnologias endógenas às firmas" (página 75).


    O capítulo 6 analisa a indústria naval e mostra que as encomendas da Petrobras foram importantes para reativar a indústria naval no Brasil que, em 2009, já empregavam cerca de 232 mil trabalhadores. No entanto, dados para a indústria naval mostraram também que os gastos em P&D (em percentual da receita líquida) são inexpressivos no setor e que existem apenas 21 pessoas (sendo sete deles doutores) ocupados em P&D. Ao contrário do Japão e Coreia do Sul, está-se criando, no Brasil, uma grande indústria de montagem de navios; ou indústrias maquiladoras do setor naval (páginas 84-85).


    Por fim, um dado interessante, que não aparece no livro publicado mas escutei de pesquisadores que participaram da pesquisa, é que mais da metade das compras da Petrobras (entre 55% e 60%), no setor industrial doméstico, de 2004 a 2007, são compras de empresas brasileiras de capital estrangeiro. Ou seja, a exigência de conteúdo nacional parece estar funcionando muito mais para atrair empresas estrangeiras para o Brasil do que como estímulo ao desenvolvimento de empresas nacionais.


    Em resumo, a Petrobras é uma grande empresa, com acionistas estrangeiros e com mais da metade de fornecedores industriais que são empresas estrangeiras no Brasil. Isso não é, necessariamente, ruim; e talvez seja essencial para que a estatal continue como a empresa mais inovadora no Brasil e América do Sul. Dito isso, precisamos entender que os dilemas para o crescimento do Brasil são muito maiores que o crescimento da Petrobras. Assim, controle o seu entusiasmo com o "petróleo é nosso".


    Mansueto Almeida é técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).